Os meus avós
O meu pai, na Escola Primária
Em 1954, os meus avós deslocaram-se para a aldeia de Cebolais de Baixo, à procura de uma vida melhor, sem ser na agricultura e na criação de animais, que tinham em Malpica, de onde eram naturais.Conta-me o meu pai que, nos Cebolais, alugaram uma casa que tinha um forno, onde a minha avó cozia o pão que vinha vender a Castelo Branco.Em 1963, o meu pai deu inicio à Escola Primária, ainda nos Cebolais, onde frequentou a primeira, segunda e terceira classes. Conta que o diálogo entre professor e alunos eram bastante mais respeitoso, sendo os alunos punidos com uma reguada e varadas dadas, com uma vara de marmeleiro, nas orelhas, a quem não respeitasse o professor.Na escola, à entrada para a sala de aula, era obrigatório ter vestido uma bata branca uniformemente para todos os alunos.Acabada a terceira classe, os meus avós voltaram para Malpica do Tejo. Notava que havia diferenças sociais entre os mais pobres, que trabalhavam de sol a sol, e as pessoas das classes média e alta.Ouvia falar no regime e as pessoas com medo elogiavam-no, por obrigação e devido a graves consequências de desaparecimentos ou até mesmo mortes.Lá na aldeia, desapareciam pessoas, geralmente homens, e nunca mais ninguém soube do seu paradeiro, suspeitando-se terem sido mortos ou levados pela PIDE.Em 1966, realizou, em Castelo Branco, um exame escrito e oral, tendo sido aprovado em ambas as provas, concluindo a 4.ª classe.Até 1967, frequentou a quinta e sexta classe. Depois, com 12 anos e com a sexta classe concluída, veio sozinho para Castelo Branco. Cá, começou a trabalhar numa drogaria, foi caixeiro durante 4 anos. Tendo o seu trabalho diurno, ainda estudava de noite. Tirou um Curso Geral de Mecânica, na Escola Industrial e Comercial de Castelo Branco. Em 1973, mudou de emprego, para uma oficina de venda e consertos de motorizadas e bicicletas.Embora não percebesse muito de política, sabia que não podia invocar o nome das figuras do estado.No dia 25 de Abril de 1974, ao chegar ao local de trabalho, ouviu insistentemente a frase pronunciada pelo locutor da rádio: “Pede-se à população que se mantenha calma. Assim que a situação esteja regularizada ou existam novas informações, a população será informada.” Havia uma música de fundo, que era interrompida para repetir sempre a mesma frase.Como estudante nocturno que era, foi para as aulas. Pelo sucedido, professores e alunos foram dispensados.Nos dias seguintes, só se ouvia falar no golpe de estado, em que se apregoava a liberdade.Na cidade havia movimentos militares, com viaturas pertencentes ao Exército, que tomavam conta das ocorrências, substituindo as forças policiais. O povo obedecia e elogiava.Essa revolução veio findar o regime de Salazar (fascismo) dando abertura a certas regalias sociais, entre as quais eleições livres, reformas, subsídios e assistências de vária ordem à população.Uma das alterações feitas pelo novo regime foi a entrega das colónias portuguesas aos naturais, tendo cessado o envio de militares, no ano de 1975.Em 1978, ingressou no serviço militar obrigatório, tendo terminado, após 16 meses, com a graduação de Cabo de Infantaria.
Ana Rita Nunes Correia
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