terça-feira, 9 de junho de 2009

O meu pós 25 de Abril

O meu primeiro nome é Maria e o último Brás. Nasci há 57 anos, no do Couto Mineiro da Panasqueira, do concelho da Covilhã. Era uma aldeia onde as diferenças eram muitas e bastante acentuadas. Havia bairros para mineiros, bairros para engenheiros, bairros para empregados de escritório. Alguns bairros tinham cancelas para que só pudesse entrar, ou passar, quem os moradores do bairro permitissem. Havia famílias que ainda dividiam sardinhas, de modo a que uma sardinha dar para duas pessoas.Na sede de freguesia, Cebola, trabalhava-se ainda de sol a sol. As pessoas saíam do povo ainda de noite e só voltavam ao toque das Avé-Marias. Trabalhava-se muito, para angariar o sustento. O trabalho do campo era, na maioria, feito por mulheres. Os homens trabalhavam na Mina.Foram tempos que colocaram muitas interrogações ao meu espírito e poucas ou nenhumas respostas me davam. Não havia liberdade para as obter. Certas perguntas eram perigosas. Porque é que as Minas eram inglesas e não eram “nossas”? Porque é que havia aquela diferença nas casas dos bairros da Panasqueira?Só quando aconteceu o 25 de Abril é que fui encontrando as respostas. Foi a oportunidade de encontrar respostas às minhas perguntas, de pensar pela minha cabeça e de participar na vida do nosso povo e do nosso país. Foi uma época que me marcou muito.As manifestações em que participei, pelo direito ao voto aos 18 anos. Éramos milhares e milhares de jovens, enchendo as ruas a exigindo o voto aos 18 anos e gritando pela Paz, pelo Pão e pela Liberdade.A Liberdade Sindical. A criação dos Sindicatos dos Trabalhadores da Função Pública. Antes do 25 de Abril, os trabalhadores do Estado não tinham direito a um Sindicato. Era proibido.Logo a seguir, criaram-se as Comissões pró-sindicais, que tinham como objectivo criar as condições para a realização de eleições para a constituição dos Sindicatos.Na altura em que comecei a trabalhar na Função Pública, ainda se trabalhava ao sábado. Fazíamos 40 horas por semana, na minha categoria, porque havia trabalhadores a fazer 44 horas. Esta situação gerou a primeira luta que tivemos, mesmo antes de existir o sindicato, foi pela redução do horário de trabalho. Começámos por ir metade do pessoal um sábado e a outra metade no outro sábado e assim consecutivamente. Como não havia resposta por parte dos governantes, deixámos de ir trabalhar ao sábado. Ficou o pessoal auxiliar a fazer 40 horas e o outro, técnico e administrativo, a fazer 36 horas semanais. Actualmente todos os trabalhadores da Função Pública fazem 35 horas semanais. Seguiram-se outras lutas, como a criação de carreiras profissionais; luta por melhores condições de trabalho.O que aprendi nesta fase? Que temos de lutar pelos nossos objectivos, neste caso sindicais. Sem luta, sem trabalho, nada conseguimos.Mais experiência haveria para contar… deixo parte do que foram os meus primeiros anos após o 25 de Abril.










Primeiro 1 de Maio pós o 25 de Abril , em Lisboa.








































Manifestação pelas carreiras

































Protesto geral, função pública.








Andreia Lopes

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