terça-feira, 9 de junho de 2009

As memórias do 25 de Abril









Para começar, quero agradecer à minha mãe por me ter auxiliado neste trabalho, tendo aceite responder a algumas perguntas sobre esta data tão importante.Inês: Que idade tinhas quando foi o 25 de Abril?Mãe: Tinha 12 anos.Inês: Como soubeste da notícia e o que significou para ti?Mãe: Como gostava muito de música, costumava ouvir rádio. Naquele dia, ouvi na rádio que tinha havido um golpe de estado e que as tropas tinham saído à rua, trazendo a liberdade às pessoas. Como criança que era, não sabia ao certo o que se estava a passar, mas saí a correr do meu quarto para ir contar aos meus pais – senti que algo de muito importante tinha acontecido.Passámos o dia a ouvir rádio. As canções que passavam pareciam que tinham um significado especial, tanta era a alegria dos meus pais e amigos!Andava no 7.º ano, e lembro-me de terem passado militares na escola a distribuir auto-colantes com símbolos do “M.F.A” (Movimento das Forças Armadas).Nalguns deles (e hei-de me lembrar para sempre) estava uma criança, ainda muito pequena, a colocar um cravo na ponta de uma espingarda.Inês: Decorridos estes anos todos, continuas a achar que foi importante?Mãe: Sim, muito. Sou daquelas pessoas que acha que o 25 de Abril deve ser comemorado todos os anos, com cerimónias oficias, com palestras nas escolas, com programas de televisão, etc. Há uma tendência muito grande para as pessoas se esquecerem e se acomodarem.Antes do 25 de Abril não havia liberdade de expressão nem de pensamento. Havia a polícia política, o “lápis azul” e a perseguição das pessoas que não gostavam de “comer e calar”: Quem se manifestasse contra o poder era apelido de comunista e preso de imediato.Inês: Conheceste alguém que sofreu às mãos da polícia de então (PIDE)?Mãe: Sim. Um senhor que foi meu vizinho esteve preso, mas conseguiu fugir de uma das prisões existentes no nosso país para presos políticos (penso que de Caxias).Foi de comboio, para França. Contava ele que, durante essa viagem, ele e os companheiros, desesperados, até chuparam carvão para se alimentarem. Depois do 25 de Abril, voltou e as histórias que tinha para contar eram muitas e muito tristes. Uma das histórias que eu escutava com atenção era a forma como as pessoas eram torturadas. Os presos passavam dias e dias sem os deixarem dormir. Era a tortura do sono, acabando, por vezes, por confessar crimes que não eram os deles!Inês: Achas que as pessoas hoje sabem respeitar a liberdade que foi conquistada?Mãe: Como muitos já nasceram num país livre, confundem muitas vezes liberdade com falta de respeito pelos outros. Para mim, ser livre é precisamente o contrário, para mim ser livre é ter responsabilidade de pensar, de discordar e de respeitar os outros.Ser livre, não é ser livre de dizer o que nos vem à cabeça, por vezes ofendendo os outros.Quando há eleições, penso que todos deverão participar, pois esse foi um dos principais direitos que conquistámos: escolher quem nos deve governar!Inês: Para concluir, gostava que referisses quais as conquistas de Abril que achas mais importantes.Mãe: Poder falar livremente, ter acesso à informação (a livros, jornais...). É bom pensar que não está ninguém à escuta! É bom saber que todos temos oportunidades iguais, como, por exemplo, no acesso ao ensino.Antigamente, só os ricos é que podiam estudar. Os pobres, mesmo sendo inteligentes, tinham que continuar a trabalhar, na ignorância.
































Inês Girão

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